
Ao comando, a defesa vermelha avançava deixando o ataque adversário em posição irregular. Por vezes, cinco, seis, sete jogadores caiam na armadilha ao mesmo tempo. Essa tática produziu ganho de qualidade ao time que havia sido campeão nacional na temporada anterior.
Os anos passaram, a regra mudou e a eficiência deste tipo de arma foi reduzida. Passou a ser muito arriscado utilizá-la. Hoje, a arapuca está armada muito mais para quem tenta executá-la do que para o adversário. Tanto que seu nome mudou. A linha do impedimento virou "linha burra".
O Gre-Nal de domingo é o exemplo mais latente no Rio Grande do Sul da perda de sua eficácia. A vitória gremista por 3 a 2 teve dois gols em que Junior Viçosa, atacante do Grêmio, ficou cara a cara com o goleiro Renan por erro da linha do impedimento colorada.
A questão ganhou força na entrevista de Falcão, técnico do Inter, após o clássico. "Essa é uma herança que eu recebi", afirmou o treinador. A sentença gerou desconforto em Beto Ferreira, auxiliar de técnico de Celso Roth, antecessor de Falcão no comando do time.
Em carta enviada à Rádio Gaúcha, Beto criticou a postura adotada pelo treinador e afirmou que esse tipo de jogada era colocada em prática somente em faltas laterais, nunca com a bola rolando.
O ex-volante tentou colocar panos quentes na discussão. "Herança, normalmente, é uma coisa boa", desconversou ao ser questionado sobre o tema. "Certamente quem me substituir no Internacional vai pegar alguma herança. Não sei quando surgiu isso (a linha de impedimento), se é de um ano, dois, anos, três anos. Mas certamente não é meu", disse. Sua opinião sobre a tática foi clara. "Não gosto de fazer", afirmou sem deixar dúvidas.
Independente do momento em que a cultura surgiu no elenco atual do Inter, Falcão sofre desde sua estreia, contra o Santa Cruz, com falhas no posicionamento em linha da defesa. A fraqueza na disposição dos quatro últimos jogadores da equipe foi observada, analisada e aproveitada na prática pelo Grêmio.
"A gente sabe tudo do adversário, a gente estuda o adversário. Teve um lance curioso contra o Santa Cruz, foi um lance parecido (com os gols do Gre-Nal), em que um jogador do Santa Cruz entrou sozinho no segundo pau", explicou o técnico gremista, Renato Gaúcho.
A mudança na regra - A evolução tática do futebol está diretamente ligada à regra de número 11 do futebol, a do impedimento. Além do time colorado dos anos 70, o carrossel holandês da Copa de 74 e o Milan do fim dos anos 80 foram outras grandes equipes exitosas na utilização de uma defesa em linha.
"Na época em que joguei na Roma, o grande Milan, do grande Baresi, que já jogava junto por alguns anos, algumas vezes tomava gol com essa falha", comentou Renato. "Não tenho nada contra, nem a favor. Eu não faço. Tem que ser muito bem treinada. Se um vacilar, vacila o trabalho todo", opinou.
A compactação, conceito repetido inúmeras vezes por Falcão desde sua chegada ao Inter, era facilitada pela lei. Arrigo Sacchi, técnico do famoso Milan citado por Renato, gostava que seus jogadores se posicionassem de forma que a distância entre a defesa e o centroavante não superasse os 30 metros.
Em 1990, a regra foi modificada e o atacante que estivesse na mesma linha do penúltimo defensor passou a estar em condição legal, provocando um recuo do sistema defensivo em campo para evitar buracos, neutralizando a eficiência da tática de adiantar os defensores na hora do lançamento.
O impedimento passivo, quando um jogador em situação irregular, mesmo que receba o lançamento, mas se omita da jogada para que um companheiro em condição legal prossiga com o lance, foi uma adaptação imposta em 1995 e que dificultou ainda mais a execução da linha de impedimento. "Critico muito isso. Isso dificulta muito o encurtamento de campo", critica o técnico colorado.
A evolução da lei do impedimento*
1863 - A Federação Inglesa de Futebol criou as regras do futebol moderno. O impedimento ocorria quando o jogador estivesse à frente da linha da bola no momento do passe.
1870 - A regra muda pela primeira vez. Se um jogador tiver três adversários entre ele e a linha de fundo, ele não estará impedido.
1880 - O impedimento é inexistente em cobranças de tiro de meta.
1881 - Impedimentos em lances de escanteios passam a ser inexistentes.
1907 - O impedimento só poderá ser marcado se o jogador estiver no campo do adversário.
1913 - Não há mais impedimento em cobranças de lateral.
1925 - A regra fica mais próxima aos dias atuais. Para ter condições legais, o jogador precisa ter dois adversários entre ele e a linha de fundo.
1990 - O jogador que estiver na mesma linha do penúltimo adversário não se encontra em impedimento.
1995 - É institucionalizado o impedimento passivo, situação que não deve ser assinalada irregularidade.
2003 - O impedimento só será assinalado caso o jogador interfira na jogada, atrapalhe o adversário ou tire vantagem de sua posição irregular.
2005 - Caso somente os braços estejam à frente do penúltimo defensor, a condição é considerada legal.
Fonte: Sindicato dos Árbitros do Rio Grande do Sul
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